LAGOA DO COMÉRCIO, MORTE ANUNCIADA.
O Brasil é reconhecido mundialmente
como o mais rico em diversidade biológica. De acordo com PAULI (2003), essa
riqueza poderia se transformar num instrumento para a competitividade e numa
base de respostas às questões necessárias de todos os cidadãos em termos de
água, alimentação, abrigo, assistência de saúde e energia. Novos paradigmas
sobre mudança global, diversidade e sustentabilidade, economia verde, energia
criativa, emergem como resultado de um aumento crescente na escala de percepção
e de compreensão do mundo. Refletem também uma maior consciência do poder da
humanidade para influenciar seu ambiente de forma contundente podendo modificar
o curso da própria evolução (YOUNÉS, 2001). As questões que se originam da diversidade
biológica, mudança global e desenvolvimento sustentável, constituem a abordagem
primordial adotada na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro onde foi assinada
por mais de 162 países, a Convenção da Diversidade Ecológica. Esta Convenção se
destina a conter a destruição das espécies, habitats e ecossistemas, por
considerar a Biodiversidade como um recurso para a construção do
desenvolvimento. Entretanto, apesar de haver um consenso quanto a esta
evidência relacionada à necessidade de se fazer cumprir esta Convenção, algumas
questões podem ser levantadas quanto à definição sobre o que conservar e
manejar, como e onde agir e quem deve se responsabilizar por estas ações. O
sistema estuarino-lagunar Gargaú pertence ao rio Paraíba do Sul e se apresenta
com sucessões de faixas arenosas em sua desembocadura (SILVA, 2001) se
caracterizando como uma planície costeira, apresentando comportamento instável
devido à presença de inundações periódicas influenciadas pela maré (MME,
1983).Toda dinâmica local favorece a presença de manguezais, ecossistema de
grande importância econômica por ser fonte de recursos pesqueiros e
extrativistas usados pela população local
(LACERDA, 2003) além de exercer várias funções como: estabilizador dos
sedimentos transportados; grande produtor primário e considerados verdadeiros
viveiros de peixes, crustáceos e moluscos, que utilizam-no para alimentação,
reprodução, desova, crescimento e proteção (ARAÚJO, MACIEL, 1979). Daí a
importância de uma ampla abordagem para
que este ecossistema se conserve e seja explorado de maneira que não se torne
escasso (VANNUCCI, 2003). O manguezal da região é considerado o segundo maior
do estado e é tombado como “área de Mata Atlântica” pelo Decreto Estadual de
06/03/1991. A área em questão refere-se à condição atual da Lagoa do
Comércio,local de grande movimentação antrópica e ocupações irregulares e
situações de influência de possíveis pontos de águas residuais
domiciliares,falta de monitoramento do órgão público municipal, e muito pouco de interesse de
outras entidades ou instituições, na qual deveriam proteger integralmente este
ecossistema.A Lagoa do Comércio,recebe diariamente água de maré, de um braço do
Rio Paraíba do Sul,avançando por meio de córrego, mais conhecido como riachinho
do buraco fundo, onde a mesma é preenchida e seu excesso, vazando através de
tubulação de concreto subterrânea, indo desaguar no valão, até seu retorno ao
mar.Temos estudos de pontos de coleta indicando que a cinco anos a eutrofização
teve seu crescimento acelerado,aumentando a carga orgânica,diminuindo a
capacidade de oxigênio, formando um fundo lodoso,com alta concentração de gases
e ácidos que prejudicam integralmente a reprodução de fauna e flora, onde
periodicamente temos a mortandade de peixes e crustáceos e outras espécies que
necessitam de um estudo aprofundado e fundamentado de pesquisa acadêmica.Em
2014 recebemos uma obra de pré urbanização, sem qualquer estudo
inicial,levantamento científico, cadastro de espécies e inventário
florístico,constituindo um painel de pequena importância ambiental para o
Município de São Francisco de Itabapoana, e onde percebe-se uma obra de
resposta eleitoral,e com conseqüências desastrosas nos próximos anos,com a diminuição
de coluna de água,baixa entrada e recebimento de água de maré,fragmentação de
várzea, onde a micro fauna cíclica(poças temporárias)estabeleciam reprodução
sistêmica, e assim repovoamento natural da lagoa e manguezal adjacente.Após
análises documentais,artigos diversos e estudos, certificamos que a lagoa do
comércio passa por um processo grave de encerramento hidrodinâmico e com isso
distorções espaciais e temporais que
podem levar a saturação e vulgarmente sua “morte”.Se fizermos uma comparação de acompanhamento anual, e
voltarmos a 2005,poderemos verificar a degradação pontual, e considerar que nos
próximos dez anos,portanto 2025,teremos uma pequena poça,lamacenta e podre, ou
até mesmo ocupada para uso domiciliar.Necessariamente precisamos intervir neste
processo, apresentando a comunidade o risco de desaparecimento da lagoa, e que
ações devem ser urgentemente pleiteadas ao poder público Municipal, Estadual e
Federal, com intervenções na correção da calha do Riachinho do Buraco
Fundo,limpeza do fundo lodoso, quebra de fragmentação com instalação de TCA’s
de controle de vazão, troca do TCA da entrada da lagoa,reposição arbórea até o
valão de ligação.Neste sentido analisando as condições físicas e estruturais
posso afirmar que as ações acima descritas não implantadas, poderão ocasionar a
perda completa deste importante ecossistema, que outrora servia a moradores na
obtenção de alimentos, referência turística e local de contemplação e
admiração.
Ilzomar Soares Filho - Biólogo Marinho – ANO /2015 rev I – Publicação
nos Anais.
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